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CULTURA DO CANCELAMENTO

UMA REPORTAGEM SOBRE EMPATIA, REDES SOCIAIS E INTERAÇÕES HUMANAS

A "Cultura do Cancelamento" é uma prática que ganhou fama nas redes sociais nos últimos anos. Ela consiste em boicotar uma pessoa, em sua grande maioria figuras públicas, que compartilham de uma opinião questionável, controversa ou que tiveram um comportamento ofensivo contra um grupo de pessoas.

Em quase todos os casos, o cancelamento acontece de uma forma agressiva e o alvo não tem o direito de se defender.

Nesta reportagem, abordamos a falta de empatia na Cultura do Cancelamento, casos famosos e meios para direcionar a prática ao caminho certo: o de educar. 

Navegue pelo site para conferir ou, se preferir, você pode escutar o áudio-documentário abaixo.

Mas antes, para te ajudar a compreender melhor algumas palavras utilizadas nessa reportagem, separamos um mini dicionário com os principais termos derivados do cancelamento:

MINI DICIONÁRIO DA CULTURA DO CANCELAMEN
HISTÓRICO
CASOS FAMOSOS
CONSEQUÊNCIAS

AFINAL, DE ONDE VEM O CANCELAMENTO?

Que atire a primeira pedra quem nunca passou nervoso com certas publicações nas redes sociais, não é?

A verdade é que, ao longo dos anos, a sociedade vem passando por uma desconstrução cada vez mais intensa.

Práticas consideradas preconceituosas não são mais toleradas, piadas de mau gosto não são mais engraçadas e ofensas são combatidas todos os dias. No meio virtual, essa mobilização permanece.

Pouco a pouco, usuários de todas as redes abriram os olhos para certos comportamentos e ações, buscando um espaço mais justo, acolhedor e seguro a todos. Como explica Issaaf Karhawi, doutora em Comunicação Digital, “O 'Tribunal da Internet' está sempre prestando atenção no que o outro tem a dizer, então ficamos sempre nessa relação de vigilância”.

Em 2017, a atriz Alyssa Milano fez um relato em seu Twitter sobre o abuso sexual que sofreu, e convidou todos aqueles que passaram por uma situação semelhante a fazer o mesmo, popularizando a hashtag #MeToo (eu também).

A ação repercutiu nas redes sociais pelo mundo inteiro. Diversos usuários começaram a compartilhar suas histórias de assédio e abuso sexual, incluindo atrizes renomadas de Hollywood, que expuseram nomes famosos como predadores sexuais - entre eles o cineasta Harvey Weinstein que, graças ao movimento, foi sentenciado à prisão.

A partir disso, um movimento se popularizou mundialmente nos meios virtuais, simbolizando a coragem para lutar contra casos de injustiça, preconceito, racismo, machismo, homofobia e outros, banindo o silêncio de uma vez por todas e dando voz às vítimas.

Hoje, popularmente conhecido como “Cancelamento”, o movimento serve como uma forma de cobrar a sociedade a desenvolver sua consciência de certo e errado.

Funciona assim: ao identificar um comportamento considerado ofensivo ou controverso, o cancelador aponta o erro do cancelado, permitindo que ele aprenda com a experiência e nunca mais a repita.

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Manifestação em apoio ao movimento #MeToo

O Cancelamento já está tão fortalecido e enraizado nas nossas relações virtuais que, em 2019, “Cultura do Cancelamento” foi eleito o termo do ano pelo Dicionário Macquarie. E, de fato, é quase impossível não ter se deparado com um burburinho de cancelamento no Twitter ou conhecer ao menos uma figura pública envolvida em um cancelamento.  

Entretanto, nem sempre essa prática se baseia em causas justas. O cancelamento pode ser usado como uma forma de boicote contra alguém cujas ações simplesmente não nos agradam, ou, ainda, como uma estratégia de autopromoção. 

Para alcançar visibilidade nas redes sociais, é necessário engajamento. Como explica Eleonora Diniz, especialista em Marketing Digital, existe um algoritmo nas redes que aponta o alcance e o interesse do público por um perfil. Infelizmente, muitos perfis podem se aproveitar da repercussão do cancelamento de grandes influencers para impulsionar esse algoritmo. 

Como exemplifica Eleonora, "o Felipe Neto, com 12 milhões de seguidores no Twitter, se alguém for lá e contestar o Felipe Neto, isso pode dar engajamento para essa pessoa". 

CASOS QUE VOCÊ PROVAVELMENTE
JÁ CONHECE

Pense no seu artista ou influencer favorito... É difícil imaginar que ele possa dar um close errado, não é?

Quando o público percebe que determinada figura pública não é perfeita, o choque e a indignação são muito grandes. Afinal, é bem decepcionante quando alguém que admiramos - e até mesmo vemos como uma inspiração - toma uma atitude controversa. 

Construir uma imagem concreta na internet pode levar anos. É uma missão que requer muito planejamento, e o deslize mais sutil pode danificar seriamente ou até mesmo acabar de vez com a reputação de um influencer.

Passe o mouse sobre as imagens abaixo para conferir alguns casos famosos de cancelamento e suas consequências:

Karol Conká

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Provavelmente o cancelamento mais famoso dos últimos tempos. A cantora Karoline dos Santos, ou Karol Conká, conhecida por hits como “Tombei”, ingressou na última edição do Big Brother Brasil e causou inúmeras polêmicas enquanto estava no programa.


A cantora foi criticada por falas apontadas pelos telespectadores como xenofóbicas e por tortura psicológica, protagonizando diversas discussões com o ator Lucas Penteado. Em uma delas, se recusou a comer na mesma mesa que ele e o expulsou do lugar.

 

A artista foi eliminada do reality show com 99,17% dos votos, batendo recorde de rejeição do programa, e teve diversos shows e parcerias canceladas.

Tatá Werneck

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O cancelamento nem sempre tem fundamento, como o caso da atriz e humorista Tatá Werneck.

 

Tatá recebeu diversas críticas por comparecer à cerimônia de cremação de seu amigo, o humorista Paulo Gustavo - que faleceu após ficar internado durante 22 dias por causa da COVID - com duas máscaras e um face-shield, além de carregar um produto para higienizar as mãos.

 

Após as imagens de Tatá serem divulgadas, diversos internautas afirmaram que se tratava de um exagero da atriz.

 

Tatá se pronunciou no Twitter, dizendo que se afastaria da rede social por um tempo devido aos comentários ofensivos.

Gabriela Pugliesi

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A Influenciadora digital Gabriela Pugliesi parou as redes sociais em 2020, logo no começo da quarentena, ao publicar fotos e vídeos em seus stories no Instagram onde aparecia fazendo uma festa com várias amigas.

 

Apesar de ter apagado tudo e se pronunciado em seu perfil na rede, a internet e seus milhões de seguidores não levaram seu pedido de desculpas a sério.

 

Pugliesi perdeu mais de 100 mil seguidores na época, além de várias marcas terem rompido contrato com a influenciadora pelo motivo de desacordo com o distanciamento social.

MC Gui

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Em outubro de 2019, o cantor foi alvo de críticas após ser acusado de bullying. 

 

Guilherme Kaue, conhecido como Mc Gui, compartilhou um vídeo em seus stories onde zombava da aparência de uma garotinha. 

O cantor tentou se defender nas redes sociais, mas a internet não aceitou suas desculpas e o cantor continuou sendo criticado por muito tempo, tendo diversos shows e parcerias canceladas.

J. K. Rowling

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A autora da franquia “Harry Potter” foi cancelada em 2019 após declarações transfóbicas em seu Twitter. Depois, J. K. mostrou apoio a uma loja cujos produtos eram estampados por frases que promoviam a transfobia. 

 

Diversos fãs da autora e de suas obras fizeram declarações contra o posicionamento de Rowling, e muitos deixaram de consumir seus livros e produtos. 

 

O tema ainda gera discussões nas redes sociais e divide opiniões. Mesmo depois de anos, J.K. Rowling nunca mudou ou se retratou por seu posicionamento, sendo frequentemente cancelada até hoje.

Luísa Sonza

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A cantora Luísa Sonza vem sofrendo diversos ataques na internet após se divorciar do ex-marido, Whindersson Nunes, em 2020.

 

A cantora foi acusada de trair o humorista com o cantor Vitão, e esses rumores aumentaram quando, 2 meses depois do divórcio, Luísa lançou a música “Flores”, em parceria com o cantor.

Os apoiadores do humorista organizaram um boicote, e o clipe da música bateu recorde de deslikes - somando, atualmente, 5,5 milhões.

Recentemente, Luísa precisou  abandonar as redes sociais após sofrer novas ameaças.

CONSEQUÊNCIAS DO CANCELAMENTO
NA VIDA REAL

Como explica Eleonora Diniz, especialista em Marketing Digital, quando um influencer comete um ato controverso ou ofensivo, é muito importante que ele reconheça seu erro. "Quando acontece uma situação dessa, de você de atingir um hater, a melhor situação aqui é você se retratar. Se você errou, se retrate".

Eleonora reforça que, enquanto o cancelado não se pronunciar - seja para se desculpar, se explicar ou se defender - o público continuará com os ataques, e tanto a confiança quanto os resultados do influencer serão cada vez mais desgastados.

Pouco a pouco, o número de seguidores vai diminuindo, assim como o alcance das publicações, e todo o trabalho que a pessoa teve para construir uma imagem on-line vai por água abaixo. Até que esses danos ultrapassem o meio virtual.

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Eleonora Diniz - Especialista em Marketing Digital

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Daniele Pinheiro - Psicóloga

Mesmo ocorrendo nas redes sociais, o cancelamento pode causar consequências reais aos envolvidos.

Segundo a psicóloga Daniele Pinheiro, podem haver consequências emocionais, onde alguns sintomas que a pessoa já apresentava ficam mais acentuados. Outros tipos de consequências são as profissionais, no caso de pessoas que dependem do mundo virtual pra sobreviver, e sociais.

"A gente tem pensar no quanto perdemos esse poder de debater as coisas. É importante trazer aquela ideologia que já não faz mais sentido, precisa ser atualizada, e fazer essa construção junto", explica Daniele. 

Além de desenvolverem ansiedade, depressão e sofrerem com a exclusão social, os alvos do cancelamento também podem perder parcerias e contratos com marcas.

Para a professora e doutora em Comunicação Digital Issaaf Karhawi, não podemos negar que, quando realizado da maneira correta, o Cancelamento pode trazer mudanças positivas.

Mas, da forma que ocorre hoje, a linha entre cancelamento e linchamento virtual é muito tênue: "apesar de ser um lugar onde se pode falar tudo e expressar suas opiniões, a internet também não é uma terra sem lei", observa Issaaf. É preciso reconhecer que no espaço digital também existe calúnia, difamação e injúria racial. "As pessoas são responsáveis pelo que escrevem ou falam na internet, e podem responder criminalmente por suas falas", Issaaf reforça.

De acordo com o Marco Civil da Internet, existem casos de cancelamento que se configuram como Ofensa à Honra, e a vítima pode exigir que tanto o cancelador quanto os demais envolvidos sejam responsabilizados, devendo remover, mediante ordem judicial, todo o conteúdo publicado.

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Issaaf Karhawi - Doutora em Comunicação Digital

O FUTURO DO CANCELAMENTO

COMO IMPEDIR QUE ISSO ACONTEÇA?

Atualmente, qualquer pessoa que tenha redes sociais está propensa a ser cancelada. A questão não é mais se você vai ser cancelado, mas quando você vai ser cancelado. Porém, existem algumas formas de você evitar que isso aconteça e ainda deixar o ambiente virtual mais harmonioso. 

Como explica Issaaf Karhawi, devemos procurar entender sobre o assunto antes de assumir uma postura hostil contra outra pessoa.

Também é importante tomar cuidado com a forma como dizemos as coisas, ter mais empatia ao interagir com outras pessoas online.

Além disso, tomar cuidado para não usar termos ou palavras que podem machucar os outros. Preconceito e opinião são duas coisas distintas, e saber diferenciar ambas é fundamental. 

Agora que você já sabe tudo sobre a Cultura do Cancelamento, que tal fazer um quiz e descobrir se você está a salvo da prática?

Confira: https://pt.quizur.com/quiz/voce-consegue-passar-por-esse-quiz-sem-ser-cancelado-HykP

EXPEDIENTE

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Ana Julia Guedes

Edição de texto

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Odilon Santiago

Design

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Arthur Jacobs

Redação

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Raissa Pedroso

Entrevistas

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Caio de Luca

Edição de áudio

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Talita Candido

Entrevistas

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Melissa Carnaúba

Redação

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Victoria Gomes

Redação

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